Livro de Poemas
domingo, 9 de agosto de 2015
sábado, 1 de agosto de 2015
É Preciso Também não Ter Filosofia Nenhuma
Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa
domingo, 4 de janeiro de 2015
Dou-lhes o que querem
Cobram-me otimismo, eu lhes darei otimismo,
Falso otimismo.
Cobram-me mais alegria, eu lhes darei risos.
Até amor posso lhes dar,
Amor verdadeiro,
Porque amor falso não sobrevive por muito tempo.
Mas no seu egoísmo o mundo nem repara
Não lhes importa o certo e o errado, falso ou verdadeiro,
Se a joia é rara;
O que lhes interessa é receber o agrado
O qual acha que mereça
E corarem-se de glória dos pés à cabeça.
E se o mundo o agride com tanta demência
E se o falso supera a verdade com tanta eloquência
E se a dor apaga o riso
E se o mal supera o bem
E se o ódio invade o pensamento
E se o amor é sufocado, não importa;
O mundo já tem o que queria:
O falso brilho da joia imprópria.
Por que não posso ser triste?
Por que não devo estar insatisfeito?
Por que tenho de seguir protocolos, fingindo que está tudo bem e sou
perfeito?
Por que você não pode ser você e eu não posso ser eu com nossos dons e
nossos defeitos?
Por isso gosto do conforto do asilo da minha caverna
Só lá posso ser autêntico.
Nesse exílio escuro que tenta iluminar-se com a própria luz
É aonde encontro sentido para a força que me conduz.
Pra onde vou eu não sei, mas aqui não é o meu lugar.
Uma alma precisa ter direito a autenticidade,
Precisa do direito de ir e vir
E sonhar.
Quem sabe um dia...
Enquanto isso eu lhes dou o que querem:
Risos.
quinta-feira, 25 de dezembro de 2014
Ressaca de alegria
Apelidaram-me
de estraga prazer.
Já faz alguns anos, como reagi todo nervosinho, o apelido
pegou. O motivo?
Por um longo
período me fiz essa pergunta e, procurando respostas, cheguei à conclusão de que
eles estão certos e eu, contudo, fiquei ainda mais chato. É que tenho a
desagradável mania de falar a verdade e não ceder a opiniões se realmente os
argumentos não forem relevantes e convincentes. É, defendo meu ponto de vista
até o fim, às vezes, ou melhor, sempre pago caro por isso.
Dessa vez foi
o bendito comentário sobre a alegria das festas de fim de ano. Que infeliz
opinião a minha! Sabe, hora errada, lugar errado e com pessoas erradas; pessoas
que se ofendem e são do contra só para se colocarem em destaque? Porém dizem
que eu é que sou do contra. Compram, com o menosprezo dos outros, um lugar na
primeira fila no espetáculo da amizade e pagam ou oferecem como alegria aos
seus ídolos os defeitos dos outros, com piadas e puxa-saquismo. Bem aquele
tipo: o chefe abre a boca e ele já ri. Nos ambientes corporativos isso até que
é compreensivo. Mas nas festas de confraternização ou entre família?! Ah, dá um
tempo, né!?
Ah, sim! Claro,
eu conto; eu conto. O que aconteceu dessa vez foi o seguinte: Entre risos e
abraços e beijos, a galera, a meu ver, disputavam quem era o mais querido.
Nessa disputa pelo primeiro lugar contavam vantagem, uma piada, ou contavam um
feito muito interessante _ extravagante, eu diria. Todos eram super-heróis,
demais. Coitado de mim, eu sou um humilde observador, me sentindo perdido por
saber que comparado a eles, sou nada especial. Mas alguém me intima, medindo-me
rapidinho dos pés à cabeça, com certo desprezo, e me põem na roda.
_ Fala aí, meu,
o que você acha?
_ Eu diria que
podemos classificar certas datas como sendo o dia da falsa amizade. Todo mundo
se abraça, se beija, diz o quanto admira e até que ama, mas não sustentam essa
verdade nem por 24 horas. Aliás, no dia seguinte acordam com o espírito de
ressaca. O coração dói, o arrependimento sangra o coração, e já evitam olhar
nos olhos dos “amigos” de ontem. E pensam, com um nó na garganta: “Caramba! Eu abracei
fulano; aquele idiota! Não suporto ele.”
É, eu sou
mesmo um chato, um estraga prazer. Sou ou não sou? Mas, tudo bem; aprendo a
conviver com isso.
E no Brasil,
temos muitas datas que nos provoca ressaca de alegria: Confraternização, Natal,
réveillon, carnaval...
Ah, só mais
uma coisa, eu tive um amor e com ele eu esperava um fim de ano diferente. Não
rolou. Será que por isso fiquei assim?
Mas e você, tá
com essa cara por quê?
Bom,
de coração, Feliz Natal!
sábado, 6 de dezembro de 2014
Só para os íntimos
Um amor desfeito é uma esponja úmida:
Apaga a esperança
Descolore o mundo
Esconde o sol
Deixa tímido o sorriso.
Um amor desfeito apaga a vida.
Mas fica no ar uma poeira que incomoda, como resíduos de giz, partículas vagando em vão, tremeluzindo, tentando se reconstituir para cumprir o compromisso de imprimir uma história.
As partículas que flutuam ao redor de mim, inflamando, irritando meus sentidos, nublando, anuviando-me os olhos, se juntas, têm o brilho mágico para recompor o colorido original da vida.
Mas não quero, não devo, não posso lamentar o ontem, o hoje, o que passou; esse instante, o que virá, e depois...
O agora é transição;
E nada melhor do que os fatos da vida em transição. Nada mais empolgante e atraente do que o movimento. O movimento é o que há de mais significativo nessa divina existência. Mover-se!...
Nada mais digno do que saber-se vivo _ mesmo que essa consciência se nos desperta de um amor indigno. Por isso, eu quero um amor verdadeiro.
Só mesmo o amor verdadeiro é capaz de levar o homem nas nuvens, entre as estrelas, no cimo do destino, na misteriosa escalada da vida.
Quero um amor verdadeiro.
Cansei de ser um mero doador, só eu sempre, a oferecer amor verdadeiro.
Todas as vezes que amei, ofereci amor verdadeiro;
Agora, quero um amor verdadeiro.
Existe sim, amor verdadeiro;
Todas as vezes que amei, foi amor verdadeiro.
Como será que é o amor verdadeiro?
Eu quero muito sentir o que sente aquele que recebe amor verdadeiro.
Às vezes penso, como seria bom um amor recíproco, de igual proporção, grandeza equivalente; um amor linkado direto, para download e upload, direto ao coração. Um amor assim, cliente/provedor, compartilhando intimidades. Um amor de salvação. Um assim é o que ofereço e espero na minha doce ilusão.
Isso exige responsabilidade, cuidado, porque o mundo é muito estranho.
O amor verdadeiro é algo meio complicado. É exigente. É uma mistura de não e sim na plenitude da sua liberdade de ser como é. Mas essa perfeição é nada ser além da simplicidade da sua perfeição de apenas existir. Exige exclusividade. E nessa prioridade exige-se que o seja proclamado e exaltado. Contudo exige sigilo. Que o seja compartilhado só para os íntimos. Por quê?
Ora! Por que! Os pastores são hostis e o amor é um cordeiro. O mundo adora sacrifícios. O amor é sempre ingênuo e puro _ uma bela oferenda. E eu lhes digo: Não há no mundo pessoa mais íntegra do que aquela capaz de oferecer amor verdadeiro. Ah!...
terça-feira, 11 de novembro de 2014
Janela
Nenhuma
borboleta, azul ou branca, diante da janela.
Nenhuma
rolinha no terreiro
Nenhuma
fada, nenhum duende no quintal;
Nenhum quintal.Até os monstros desapareceram.
As
sombras nas paredes são apenas sombras
O
chão não mais se abre como uma bocarra gigante debaixo dos pés, querendo
engolir o mundo-menino à noite;
No
entanto, vivo em queda livre num breu crescente e infinito.
Às
vezes quero chorar...
Na
verdade, às vezes choro.
Mas
o pranto não são lágrimas nem pérolas.
Ora!
O pranto deve ser algo que valha um tesouro ou um mistério.
O pranto deve ser uma transição do nada para uma esperança.
O pranto deve ser uma transição do nada para uma esperança.
_
Eis aí o caminho do império.
Choro.
Ah, choro!
Mas
choro apenas para lubrificar os olhos, já que o mundo,
_
o mundo iluminado, o mundo do homem _,
O
mundo é cegante, reluzente, e a vida...
A
vida é cega e usa óculos escuros.
Nenhuma
borboleta diante da janela
Nenhuma
janela, nenhum quintal;
Mas
há um pássaro que canta na gaiola
E
um horizonte, distante, para o imaginário.
sábado, 4 de outubro de 2014
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